O co-fundador da The Loop. Co. reconhece que há uma evolução na área do smart packaging, mas nota que que ainda não surgiram mudanças na medida nem nas proporções necessárias para fazer a diferença no combate aos problemas ambientais.
Tem poucos dias, mas é uma ideia que já tem vindo a ganhar forma no papel. Foi a pensar no futuro do retalho alimentar que a Loja do Zero e a The Loop Co. se juntaram para criar a Zeroo Smart Packaging Solutions, uma joint venture que nasce com a missão de apresentar soluções mais sustentáveis a retalhistas e consumidores.
À Ambiente Magazine, Ricardo Morgado, co-fundador da The Loop. Co., explica que, do lado da Loja do Zero havia, desde sempre, a “ambição de trazer uma solução que facilitasse as compras a granel, a tornasse numa opção verdadeiramente sustentável e escalável”; e do lado da The Loop Co., o foco assentava em “continuar a desenvolver tecnologia, software e hardware, que contribuísse para uma sociedade mais sustentável”. Assim, “quando nos conhecemos, soubemos que fazíamos o match perfeito para conseguir revolucionar o granel e, aquilo que começou pelos Zero Cups (agora Zeroo Cups), tornou-se em algo muito maior e, acima de tudo, escalável”, indica.
Embora os Zeroo Cups estejam associados ao granel, este primeiro projeto da Zeroo, pretende abranger também o takeaway ou a própria logística de packaging de envio: “O mote da Zeroo Smart Packaging Solutions é «more than bulk», o que significa que hoje temos os cups, mas amanhã podemos ter a box, a bowl ou a bottle”, refere o responsável, acrescentando que, face à “exigência do consumidor e às alterações de hábitos de consumo, mais soluções e tecnologia associada vão ser necessárias e estaremos cá para isso”.
Colocar a tecnologia ao serviço da sustentabilidade
Quando, há quatro anos, nasceu a The Loop Co., Ricardo Morgado refere que a missão assentava em colocar a tecnologia ao serviço da sustentabilidade, através de projetos que garantissem a circularidade de produtos, sendo que a Zeroo é a prova disso mesmo: “Não é novidade que a utilização em excesso de embalamento de uso único tem grande impacto no ambiente, mas, infelizmente, ainda não existia uma solução que fosse verdadeiramente inteligente – é aqui que entra a tecnologia”.
ste primeiro projeto da Zeroo, dos Zero Cups, vem dar o primeiro passo para tornar, neste caso, o consumo a granel numa alternativa viável para retalhistas e consumidores: “Na prática, a tecnologia destas embalagens inteligentes funciona através de um sensor RFID (Radio-frequency identification) que guarda toda a informação daquilo que acontece naquela embalagem”. Assim, sempre que a embalagem esteja cheia, através de um processo cada vez mais automatizado e eficiente, o sistema regista automaticamente no RFID: “o produto, a quantidade, o lote, a validade, entre outras informações”. Com o objetivo de o “reutilizar inúmeras vezes, da mesma forma”, ficarão também disponíveis informações quanto ao “número de lavagens e quantidade de utilizações prévias da embalagem”, acrescenta.
Implementar novos sistemas de embalagens inteligentes em retalhistas e marcas que pretendam ter operações com embalagens circulares, como operações de granel, refill ou mesmo takeaway é o grande objetivo da Zeroo Smart Packaging Solutions que, todos os dias, procura trabalhar para terem a box, a bowl ou a bottle: “Independentemente do tipo de projeto criado, a ideia é que todos eles possam depois decorrer presencialmente em lojas físicas ou ser integrados num sistema de e-commerce pré-existente de cada retalhista”.
Para já, o primeiro projeto da Zeroo, “os Zero Cups”, encontra-se implementado na Loja do Zero para servir as suas operações, mas está disponível para outras lojas que pretendam ter a oferta de granel em e–commerce. Além disso, tal como indica o responsável, a ambição é de continuar a trazer para os seus clientes – e para a sociedade – soluções de comércio mais sustentáveis: “A Auchan será o primeiro retalhista a participar nesta parceria de co-criação que visa reforçar a sua política de inovação, com a introdução desta nova solução numa das suas lojas de ultra proximidade, My Auchan, em Lisboa”.
Ao nível de metas, Ricardo Morgado indica que, para o curto e médio prazo, o desígnio passa por levar esta primeira solução criada o mais longe possível e implementar este sistema em retalhistas e marcas que pretendam ter operações de granel, sendo que este processo pode decorrer presencialmente em lojas físicas ou ser integrado num sistema de e-commerce pré-existente de cada retalhista: “A pensar no futuro, a ideia é que a solução desenvolvida pela Zeroo seja o mais modelar possível para conseguirmos ter modelos diferentes para realidades diferentes”.
"São demasiadas as vantagens para (o do smart packaging )não ser uma certeza no futuro"
Apesar de ser notório que há uma consciência e um sentido de responsabilidade cada vez maior na área do smart packaging, onde se começam a dar os primeiro passos para se incluir soluções em diversas áreas e setores em Portugal, o co-fundador da The Loop. Co. nota que que ainda não surgiram mudanças na medida nem nas proporções necessárias para fazer a diferença no combate aos problemas ambientais: “Sentimos que o Smart Packaging em Portugal está numa fase ainda muito introdutória, pelo que ainda falta percorrer um longo caminho para alcançar novas soluções que permitam transformar as convicções em hábitos de consumo”.
Em relação a esta prática ser já uma realidade no retalho português, Ricardo Morgado nota que as lojas a granel ou as secções de produtos avulso começam a conquistar espaço nos supermercados a nível nacional: “Para o consumidor que prefere comprar quantidades exatas de massas, arroz, especiarias, chás ou frutos secos, este é um método a considerar, mas o recurso ao saco de plástico descartável é um problema do ponto de vista ambiental e a própria prática de ter de levar uma embalagem própria de casa nem sempre é a mais prática para o consumidor, ou eficiente para o retalhista”. Ainda assim, o responsável considera que a “realidade idealizada” para o retalho português ainda está longe: “É preciso que novas soluções, como a dos Zeroo Cups, surjam para pôr fim ao plástico descartável e acelerar a mudança no setor”.
Neste longo caminho, Ricardo Morgado defende a necessidade de se “investir em novas propostas para combater o desconhecimento e a reticência que ainda possam existir sobre este tipo de soluções”, bem como “mostrar aos próprios retalhistas e empresas que há um caminho alternativo e inteligente que podem seguir e que fará a diferença”. Já do lado dos consumidores, é essencial “garantir que este tipo de soluções entra no seu dia-a-dia de forma natural”, dando-lhes a oportunidade de transformar os seus valores em hábitos de consumo: “Mais do que uma solução tecnológica, o smart packaging é uma resposta necessária aos valores da sociedade e dos consumidores”.
"O setor das embalagens é o que mais plástico consome (158 milhões de toneladas todos os anos), a maioria de uso único"
Face aos desafios ambientais que a indústria das embalagens enfrenta, Ricardo Morgado parece não ter dúvidas de que o smart packaging será inevitável: “Talvez grande parte dos consumidores não saiba, mas o setor das embalagens é o que mais plástico consome (158 milhões de toneladas todos os anos), a maioria de uso único. Para além disso, há uma crescente pressão legislativa para taxar este tipo de embalagem de uso único, que acaba por tornar as embalagens reutilizáveis uma boa opção”. Neste sentido, é possível que “o uso de embalagens inteligentes se torne mais comum no futuro”, uma vez que estas podem ser “projetadas para serem mais eficientes em termos de recursos, reduzir o desperdício de alimentos e prolongar a vida útil dos produtos”, ajudando a “reduzir o impacto ambiental das embalagens convencionais”. Além disso, “as embalagens inteligentes podem fornecer informações valiosas aos consumidores, como a data de validade, as condições de armazenamento e até mesmo a qualidade do produto”, explicita.
Neste leque de mais valias, o responsável destaca ainda que o smart packaging pode ajudar na rastreabilidade dos produtos, permitindo que as empresas identifiquem rapidamente a origem de qualquer problema de qualidade ou segurança: “No fundo, são demasiadas as vantagens para não ser uma certeza no futuro”.
|Fonte: Ambiente Magazine, 26 de abril 2023
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